
Já fui notícia de Jornal
23 de maio de 2025
Meu irmão Luís
27 de maio de 2025Era uma vez… vou começar assim porque sempre amei ler histórias de castelos, fadas, princesas e príncipes.
Quando criança e entrava em férias, meu pai me levava, junto com a minha irmã para a fazenda que era pra mim um lugar mágico. Ele forrava a sela no animal com um chenile fofo pra fazer do trajeto o mais confortável possível. Seis léguas viajando no lombo do cavalinho que quando resolvia descansar simplesmente deitava no chão e eu não saía do assento. Depois, seguíamos viagem. Parávamos pra colher licouri, um coquinho delicioso, nutritivo que pode ser comido cozido ou seco, quebrado numa pedra e que fazemos colar.
Mas, por que um lugar mágico? Não me lembro de fazer nada das coisas que as pessoas comuns fazem. Das necessidades básicas, nada. Mas me lembro muito bem que brincava de casinha com a filha mais nova do vaqueiro cujo apelido era nenê. Éramos comadres, vizinhas e passávamos os mesmos perrengues de quem cuida de uma casa. Era o dia todo nesse faz de conta aproveitando os dias frios e ensolarados da Chapada Diamantina e vez em quando da janela da sala eu avistava entre nuvens, bem longe, o Morro do Pai Inácio.
Vez ou outra íamos até a Casa de Farinha na fazenda vizinha do Sr. Jeremias, onde as famílias se reuniam dias e dias para raspar mandioca, fazer farinha e beiju. Diversão com trabalho pois davam muitas risadas e brincavam entre eles. E me chamava a atenção a facilidade que tinham pra rir. Riam de qualquer coisa e muito, até sair baba. Um misto da certeza de que a vida apesar de tudo é alegria e leveza.
Curtia a simplicidade de tomar o leite fresco, salgado, pois a Dona Milu, insistia em colocar sal. Era a esposa do Sr Agenor, vaqueiro, e também barbeiro que recebia aos domingos, amigos da vizinhança que vinham cortar cabelo e barba. Encontro recheado com boas conversas , “causos” e uma boa dose de pinga pra alegrar ainda mais essas longas tardes.
E assim passavam-se os dias cheios de encantamento até o retorno para a escola aguardando a próxima temporada na Fazenda Lagoinha que a gente chamava carinhosamente de “A Mata”… para sonhar de novo.