
Marli, minha amiga do coração
14 de setembro de 2025
Zezo, meu único irmão
24 de setembro de 2025Não tenho certeza do ano, mas era entre 1984 e 1985, Campo Grande/MS. Num domingo, eu e a minha mãe estávamos assistindo ao Fantástico, o telefone tocou, atendi e era uma ex-colega de serviço, com a qual já havia saído em algumas poucas ocasiões.
Ela estava me chamando pra sair. Motivo: o namorado havia chegado (diz que era de São Paulo, capital) e trouxe um amigo e ela queria que eu fosse junto de companhia para o amigo. Torci o nariz, pois não era coisa que eu curtia (geralmente era fria!). Tentei enrolar a situação dizendo que ia pensar e pra ela me ligar depois de uns minutos enquanto bolava um “plano de fuga” … em vão, pois passado um tempinho, a mesma chegou com o namorado e o amigo. Não tive escapatória… e lá fui eu…
Quando entrei atrás no carro e dei de cara com o amigo, sabe aquela vontade de fazer o
tempo voltar para sumir dali? Pensa numa pessoa totalmente desprovida de atrativos físicos, pelo menos pra mim.
Ficamos rodando de carro pela cidade procurando um barzinho; desistiram (ainda bem), então fomos à chácara de um amigo deles; o cara não estava (ainda bem). Digo ainda bem, pois não queria ser vista com aquela pessoa. Até que paramos numa sorveteria, tomamos sorvete, e eu pensei: bom, depois daqui vão me levar de volta pra casa.
Engano, para minha surpresa, a minha “amiga” e o namorado se despediram e ela me disse que o amigo me levaria pra casa no carro dele que estava estacionado em frente à sorveteira. Gelei!!!! Pensei: esse cara vai querer me levar pra um hotel! Meu Deus, me ajuda! Naquela época não tinha celular, carro por aplicativo e eu sem dinheiro pra pegar um táxi.
Entramos no carro e ele me perguntou se eu queria ir a algum lugar, disse que queria ir embora. Então me perguntou se eu não me importaria em passar no hotel onde estava hospedado, pois precisa fazer um telefonema (22h em MS, 23h em SP).
Disse tudo bem. Fiquei no carro esperando. Ele voltou e pediu para eu ir falando o caminho e fomos conversando. Na época eu estava precisando de um telefone para instalar na loja da minha mãe (época em que se alugava linha telefônica) e estava difícil de conseguir.
Ele prontamente disse que poderia me ajudar a conseguir um e pediu para eu anotar meu nome e telefone na agenda dele. E fiz. Detalhe: uma pessoa muito educada e em momento algum tentou algo. Então nos despedimos e eu entrei em casa aliviada. Minha mãe perguntou como foi e eu contei e pedi pra ela que se a pessoa ligasse pra dizer que fui com passagem só de ida para o Alasca (tempo queria dizer que ia para o Alasca significava que foi para nunca mais voltar, ou seja, para a pessoa não procurar mais).
Mas a história “com esse final feliz” não parou por aí, o melhor (ou pior) está por vir.
Por dias não tive qualquer notícia da pessoa. Até que um dia chego em casa no horário do almoço, a TV ligada no jornal local e a notícia sobre um avião de pequeno porte que decolou de um aeroporto particular nos arredores da cidade e caiu logo após a decolagem. Havia três pessoas na aeronave e os três morreram, e então colocaram as fotos e qual minha surpresa, as vítimas eram o namorado da “amiga” e o amigo dele.
Mas agora que vem a cereja (estragada) do bolo. A matéria continuou: as autoridades policiais de SP e MS há tempo estavam de olho nos dois, pois tratavam-se de dois traficantes. E a notícia continuou, e ainda prenderam aqui um outro envolvido que morava na chácara tal.
Gelei, ou melhor, dessa vez congelei. Um filme passou na minha cabeça, lembrei da ida à chácara, do telefonema tardão da noite num domingo, e por fim petrifiquei, pois lembrei que havia colocado meu nome e número do telefone na agenda da pessoa.
Passei um bom tempo apavorada, olhando jornais sobre a matéria, com medo de ser chamada na polícia, mas graças a Deus não fui (a “amiga” foi, bem feito!).
Ufa! Foram dias de medaço só… esse não precisei mandar para o Universo, ELE VEIO BUSCAR.

