
Como queremos envelhecer?
27 de agosto de 2025
Marli, minha amiga do coração
14 de setembro de 2025Trazer memórias do passado mais distante é como buscar uma agulha no palheiro… eu me perco no tempo…e talvez até no espaço.
Aquela menina/adolescente que se torna a protagonista das minhas histórias não parece muito comigo… Talvez a ingenuidade daqueles tempos vividos lá no passado só se fortaleceu.
Hoje vivo uma ingenuidade proposital!! Que persiste em se manifestar para que eu sobreviva!! Na felicidade… na jovialidade… na poesia. Mas… vamos contar as memórias. Que hoje me divertem… Não mais me envergonham.
Eu sempre fui muito bem educada. E, como toda criança de família, tive que aprender a tocar um instrumento. Naquela época predominavam o piano e o acordeão. Eu optei pelo acordeão. Garotinha meiga, muito pequenininha, com cabelos escorridos, ou com permanente ocasional, franja curta…. vestidos sempre bordados com esmero por minha madrinha…. quem me criou.
Aos 12 anos eu ia para o conservatório aprender teoria musical, harmonia, história da música e me apaixonar por Chopin, Strauss. Com tanta belezura à mostra, eu acabava sendo convidada para tocar em quadrilhas de muitas quermesses as saudosas músicas de Mário Zan…. e a quadrilha rodopiava pulando as fogueiras, fugindo da chuva.
Numa ocasião especial na Igreja da Pompéia -onde eu era anjinho em todas as procissões- eu fui convidada a tocar numa homenagem ao Bispo Diocesano. A madrinha aprontou o vestido branco bordado, tacou uma fita engomada no alto da minha cabeça e…. lá fui eu. Com meu acordeão pesando cerca de 12 kg. Havia uma passarela vermelha desde a porta de entrada do salão até o palco onde Sua Excelência, o Bispo estava pomposamente sentado numa cadeira oficial.
Eu entrei no palco, caminhei até a beirada do palco, o público aplaudiu aquela bonequinha de carne e osso e eu, gentilmente, me debrucei para agradecer.
Foi aí que a desgraça aconteceu…. O peso do acordeon me puxou para baixo e eu desabei no palco abaixo, rolando uma escadinha….. O senhor Bispo se assustou, deu um pulo da sua pomposa poltrona e foi me segurar. Nisso, o peso do acordeão mais o meu peso foi demais para o Bispo tão desajeitado e….. só ouvi um estalo… O dedo anelar do Bispo QUEBROU!!! Ele me soltou….não sem antes amortecer minha queda e olhava para o dedo pendurado na mão direita. Foi uma correria danada!!!
O povo não sabia se acudia o Sr. Bispo ou acudia a pequena sanfoneira estatelada no chão, mas ainda agarrada no seu acordeão.
Acabou-se a celebração… acabou-se a festa. E eu me martirizei de vergonha pelo resto da vida!! kkkkk.
A verdade é que este incidente acabou com minha carreira de sanfoneira. Acabei o conservatório, me formei e…. abandonei o acordeão… Até que os cupins comeram o instrumento e…. ADEUS CHOPIN, STRAUSS E MÁRIO ZAN…
Memórias que contam… histórias ora engraçadas, ora tristes. Mas…. o que vale mesmo a pena é TER HISTÓRIAS!! Saber que a vida foi vivida com intensidade, com graça, com amorosidade e com FÉ…. muita FÉ. E imensa GRATIDÃO!!!
Namastê!!

