
Velhos tempos, belos dias!
24 de julho de 2025
Memória do adolescente
28 de julho de 2025…e…. como esperado, sai a caminhar. O objetivo era audacioso!! 22 km por dia por estradas secundárias, atravessando fazendas, saboreando paisagens deslumbrantes, comendo maracujá silvestre no caminho e…. refletindo!!
Os passos se tornam cadenciados…. o vento balbucia segredos entre as folhas verdes escuras dos pés de eucalipto…. o Sol não se envergonha em mostrar sua força…
Tudo idealizado para reflexões…
“O que valeu a pena na vida??”
“O que aconteceu para formar a pessoa que eu sou???”
Lembro tão claramente das lágrimas que eu derramava durante as viagens de volta de São Paulo… Mais uma vez eu deixava para trás o meu sonho de morar com minha Mamãe amada e meus irmãos… Voltava para Santos, para a casa da Madrinha, onde eu reinava como uma princesa… Amor era sempre em dose tripla!!! Mas a casa pobre da minha Mamãe era o meu sonho…
Desde bebê eu fui acolhida pelos meus padrinhos para poupar a Mamãe que se encontrava doente. “Por que Você não deixa a Soninha com a madrinha?? Ela não tem filho algum… Você tem mais quatro!”, dizia meu Pai nas horas de despedidas cheias de tristeza!!! Mamãe chorava baixinho…. Eu guardava cada lágrima para derramá-las durante o trajeto de São Paulo para Santos. Algumas vezes eu tinha náuseas e precisava pedir para parar o carro na estrada…
E assim eu fui crescendo.. com muitas regalias, ótima educação, amor em abundância!! Mas ainda com um gostinho amargo de “rejeição” no coração…
Mamãe está com câncer no pâncreas…. sente muita dor. Está acamada e frágil. Eu subo na sua cama, me aconchego ao seu lado tentando sentir seu calor e pergunto baixinho… “Por quê Você não brigou para ter-me morando com Você??? Eu senti TANTO tua falta!!!”.
Mamãe chorou… mais uma vez… Aquele choro dolorido de alguém incapaz… e disse: ” Me perdoe, minha filha amada. Eu sempre te quis ao meu lado… mas a tua madrinha sempre chorava tanto e tinha tanto medo de te perder. Ela te amava tanto!! Eu nunca disse NÃO por compaixão. Me perdoe!!!”.
E eu abracei minha Mamãe com tanto Amor e com tanta admiração pela bondade dela em abrir mão da sua caçulinha por compaixão a outro Ser. E eu a amei mais forte ainda, abri meu coração para o perdão e deixei-a partir…
Esta cena me acompanhou por alguns quilômetros da minha caminhada naquela manhã de inverno… E eu tive certeza que eu não caminhei só… Minha Mamãe caminhou de mãos dadas comigo como sempre foi durante toda minha infância e adolescência de saudades imensas…
Ainda tenho as cartinhas cheias de corações desenhados que ela me mandava pelo correio…
Sigo feliz…
Reconheço e agradeço o Amor das minhas duas Mães amorosas… e, como anjo nunca anda sozinho… o nome das duas Mães era o mesmo: Maria Antonia. Minhas proteções pelos séculos dos séculos. Amém!!
A subida íngreme à minha frente me traz de volta à realidade.
E uma delicada borboletinha amarela pousa suavemente sobre meu coração